domingo, 20 de novembro de 2011

Menos uma gorda que só faz gordice

Boa noite! Nem lembro como se escreve aqui, e acho que sei porque: quando não se tem vida social e está cansado, não se observa as ciscadas inconvencionais.
Já que não dá pra se livrar do cansaço, tive que ter um pouquinho de vida social - e que vida social! que foi apenas um cafézinho entre um fluxo de estudos e outro. A vida social nessa cidade do norte do Paraná está cada vez mais difícil, e cada vez com mais jovens obstaculosos.

O que eu lhes falo sobre o jovem, amigos, é sério.

O fato é que estávamos exaustos de estudar cálculo, embora tivessem sido apenas simples horas de volumétricas... Nada muito além do conteúdo normal. Mas estava chato e cansativo, e estávamos com fome. Normalmente tínhamos deliciosos quitutes da dona da casa, a qual faz uns bolos de alto nível, hoje em exceção era cedo demais e queríamos MESMO comer.
Saímos em quatro, mas um tinha compromissos e foi embora. Sobramos três. Não sabíamos aonde raios tomaríamos café, já que Londrina, em teoria, é uma cidade grande, mas em prática é apenas uma cidade pequena com vários prédios. O comércio é nulo no dia de domingo, padarias simples e que não doem o bolso fechadas, lanchonetes achando que não existe gente que come de dia, entre outros.
E estávamos no centro.

Conversando e botando terror uns nos outros com os futuros sombrios que poderíamos ter, chegamos numa padaria que na verdade não era uma padaria e sim um mercado tão enorme que tinha até segurança. Porém disfarçado de padaria. Acho que a atmosfera era tão assustadora que não nos importamos muito de ver preços, entramos e em pouquíssimos segundos percebemos que o lugar não era para nós.
Até parei pra observar duas daquelas extintas 'emos' que entraram no estabelecimento, uma delas com camiseta do The Who. Mas nada demais, fomos embora logo em seguida.

O Habbib's ficava logo mais embaixo, então lá parecia uma parada mais sensata.
E fomos, né. O lugar tinha um ar muito mais agradável pra gente, sem aquela senhoria finesse da padaria erudita. Cheiro classe média-baixa é sempre bom pra jovens que tinham esquecido de trazer dinheiro. Entramos e estávamos quase sentando numa mesa lá dentro, quando percebemos que haviam mesas livres lá fora e, bem, nada contra ficar dentro de um lugar, mas o desejo pelo ar livre era algo insaciável.

Com eles, ok. Comigo, um problema: eu teria de encarar as pessoas no território estreito do lado de fora do Habbib's. O espaço vago é maior lá dentro. E assim que sentei, já comecei a prestar atenção nas duas mulheres da mesa da frente: uma eu na verdade nem lembro o rosto, vestida de hipster, que pra mim sempre será roupa de gente da roça; a outra foi o que me chamou atenção em todos os sentidos, inclusive os piores deles.
Por algum motivo, eu associei o visual da mesma àquela 'nova' vocalista do Nightwish, na época que era loira. Ela tinha olhos tão verdes que eu, exímio inimigo da palheta de cores, sabia que eram verdes. E era muito, muito loira. E o melhor: bem-vestida da cintura pra baixo. E melhor ainda: não era magra. Mas pior que tudo: da cintura pra cima se vestia estilo comunistinha de um modo que dá até preguicinha de descrever.
Só digo uma coisa: POR FAVOR MENINAS, não usem aquele negócio tipo um arquinho só que usado na testa.

Sentei educadamente e continuamos a conversar, eu e meus amigos, numa boa, apenas aguardando o cardápio e logo em sequência o pedido e, talvez, a comida em si. Óbvio que um dos meus amigos falou "depois que a gente sair daqui os comentários vão ser bons", e rimos, e tornamos a conversar aleatoriamente - enquanto a outra era ignorável, essa era, pra todos os efeitos, observável demais.

Eu observava mais que os outros porque meu espírito de fanatismo por gordinha sempre fala mais alto, por mais que eu faça de tudo para esquecê-lo (especialmente nessas horas), e até perceberam isso também mas tínhamos muitos assuntos pendentes e a obrigação certa de levá-los adiante.
E ela bebia.
E falava alto.
E ficava olhando pra nossa mesa, de modo que me incomodava porque só dava pra ver eu de frente. Por favor moça, me deixe olhar seus dotes positivos confortavelmente! Quando você retorna os olhares, eu lembro dos negativos e olho pra eles.
Por favor para.
E ela virava mais um copo de cerveja enquanto passava o olhar direto que, há meses, estava sem ver (mas se fossemos considerar a intensidade, acho que foi a segunda ou terceira vez na vida). Conversava com a amiga sobre assuntos que pareciam bestas e eu só conseguia associar ao comunismo, embora fossem assuntos de patricinha-gordurinha e eu soubesse disso.

Quando chegou minha comida, eu imaginei que ficaria feio o suficiente pra ela enfim notar que não valia a pena ficar me olhando... Mas não foi bem assim.
O desafio estava forte.
Ela tinha espírito de guerreira, só que as viradas do copo mais as risadas de gente que consegue se embebedar no Habbib's estavam me dando forte vergonha, mesmo que meus humildes 50Kg adorem uma vibração overweight isso é demais pra mim. Eu estava perdendo na disputa de olhares, e não imaginava isso acontecendo comigo... Mas bem, eu estava entre amigos e nenhum deles bêbado (mano, ressalto, era o HABBIB'S!!! às SEIS DA TARDE!!!). Não precisava ganhar sempre, né?
Mas puta, que ela era uma gordinha com potencial, inegável.
Quando menos percebi, o espírito pegou em mim e eu estava na minha sexta esfiha (tínhamos combinado de comer cinco cada). Acho que no fundo era tudo feitiçaria dela e, assim que aconteceu, ela se levantou com a amiga pra ir embora - com aquele olhar de quem ia me comer mesmo. E eu fiquei até aliviado, se pensar bem.

Fim da história.
Mas descubram que eu não fiquei aliviado porque a mesa foi ocupada, logo em seguida, por jovens (vários) das humanas pesadas da UEL. Só tava faltando as drogas pra eles porque as outras características clichê filosofia/artes cênicas estavam TODAS presentes.
Fomos o caminho todo de volta pra casa conversando como não fizemos tão mal assim em estudar que nem retardados, não apenas ficar retardados.
E lá no fundo, eu preferia mesmo era a gordinha.